sexta-feira, 11 de setembro de 2015


O DÓLAR E A ECONOMIA EM TIMOR.

10 de Setembro de 2015


Da minha recente visita a Timor, depois de dezasseis anos de saudade,  (fui obrigado a abandonar essa minha Pátria  de coração com toda a família em Junho de 1999) fiquei com a impressão de que a vida lá  não corria tão bem com seria de desejar.
Díli, capital da nova nação (as capitais são por vezes o espelho da nação) era uma cidade diferente daquela que deixei, e com franqueza tirando os edifícios novos que foram construídos em substituição dos queimados e outros que são produto das necessidades administrativas inerentes a um Pais novo, (como Embaixadas e outros edifícios comerciais,  necessários, num local em que durante anos se registou a estadia de centenas de estrangeiros), pareceu-me uma cidade diferente descaracterizada sem a beleza que sempre teve, mas é  talvez o preço a pagar por ser agora capital de uma Nação.
 A par dessa pequena observação sobre a cidade propriamente dita, em função da sua nova arquitectura, o factor humano chocou-me profundamente.
A ausência de amigos e conhecidos, (muitos morreram, e outros mudaram de cidade ou Pais)  a invasão da cidade por muitas e diversas raças, que chegam para caçarem os dólares dos mais ricos e dos mais pobres (e que servem de exportadores desse dinheiro para os seus países de origem, como Indonésia, Índia, China, Coreia, Portugal, Austrália etc. etc.) tornaram para mim essa cidade outrora, amiga e hospitaleira, em que todas as pessoas se conheciam, num local, cheio de caras novas e desconhecidas.  
Cheira a pó e a dinheiro. O pó levantado pelos carros que passam nas ruas de terra batida, e cheira a dinheiro, porque muitos desses carros de alta cilindrada, cheiram a isso mesmo. Por outro lado as casas também aqui tem classes sociais. As "palapas" continuam a existir, sô que agora onde outrora existiam outras do mesmo género, erguem-se altos muros que encerram vistosas vivendas que pedem meças a quaisquer mansões de outros países ricos.
Enfim, é o petrodólar que anda nas mãos de todos e que se escoa por entre os dedos de alguns, como água, para fora do país,  criando a ilusão, de que todos são ricos e de que esses mesmos dólares chegam para todos.
Ilusão ou não, fiquei ouvindo as conversas de Timorenses que tem que fazer chegar esses dólares para tudo, casa, água, electricidade, transporte, comida (altamente inflacionada) roupa, para eles e filhos, despesa com a escola dos filhos, pois só alguns, poucos, podem pagar escolas onde os filhos aprendam o Português, e como falo o Tétum, fui captando os sinais de desânimo nas vozes de alguns, de resignação nas vozes de outros, e quando falavam comigo a pergunta ou a questão era invariavelmente o passaporte Português para poderem emigrar de preferência para a Inglaterra.
Fiquei com a sensação de que a vida no tempo da rupia Indonésia, não por ser Indonésia, mas por ser uma moeda fraca tornava mais fácil para este povo a sua existência. Será impressão minha ou o curto espaço de tempo que permaneci em Timor, uma semana, foi pouco tempo para compreender melhor a economia local? 
 Não sou um conhecedor profundo da matéria de economia mas dentro daquilo que é o meu pouco conhecimento sobre o assunto, fico pensando se a imposição do uso do dólar Americano em Timor Leste terá sido benéfico para a Nação.
 A resposta, como as moedas, terá duas faces que não são iguais.
Os interesses internacionais da criação  de uma zona sob a influencia económica/politica Americana e também os interesses de comerciantes e empresários pela facilidade que teriam em transacções  internacionais, além  da estabilidade comercial na exploração do petróleo por uma companhia Americana, evitando assim oscilações de uma moeda nova sem base de riqueza que garantisse o seu valor, tornaram sem dúvida o dólar Americano, a moeda ideal para a novel nação.   
Porém por outro lado, o nível de vida motivado por o dólar ser uma moeda forte, determina diferenças na sociedade, onde, os mais ricos (comerciantes, empresários, altos funcionários e políticos) tem um poder de compra maior para os produtos importados. O povo esse, que na sua grande maioria, 90 por cento ou mais, vivem da venda de produtos agrícolas, tentam nivelar o preço desses produtos locais pelo valor de venda dos produtos importados. Essa tentativa determina que o poder de compra do povo cai, e nos mercados locais, o regatear dos preços tornou-se uso diário. Não existe um preço fixo, o que criou no mercado dois preços para o mesmo produto, (O preço regateado e o preço para os que tem aspecto de estrangeiros mesmo sendo Timorenses). Dizia-me um amigo, em Díli, "para ir ao mercado deve-se levar roupas velhas e se forem rotas melhor, os preços descem logo".

Um exemplo flagrante dessa politica de regateio foi para mim visível uma vez que andei de Táxi (carros muito velhos e sem condições) e que me foi pedido por uma corrida, três dólares. Por fim como resultado do regateio feito por um amigo Timorense que seguia comigo, baixou para um dólar. Dizia-me ele depois: se eu fosse sozinho o preço seria um dólar mas como o "malai" também vinha no carro,  o preço  subiu logo. 
Para além das vantagens e desvantagens da utilização do Dólar Americano que se descobrem a olho nu, há uma desvantagem que me parece muito importante:
Sabendo que a economia real de Timor, tirando o petróleo e o gaz, se deve basear na agricultura, mar (pesca e produtos marinhos) e turismo, o uso do dólar como moeda forte, é um factor que poderá atrasar esses objectivos, especialmente o Turismo.
A Indonésia é um pais muito rico no turismo e uma grande força dessa riqueza é a ilha de Bali, que só por si, dá 90%  do orçamento da nação, nesse sector. 
Se viajarmos até lá e verificarmos com atenção, encontramos uma multidão de Australianos que vão deixando lá milhões e milhões de dólares todos os anos. A pergunta que eu faço, é: porquê  lá e não noutros locais como Timor?
 Mesmo em Timor as estruturas turísticas não estão ainda desenvolvidas o suficiente, mas no futuro quando elas forem já uma realidade, a questão da diferença do dólar Americano e do dólar Australiano (AU $1.000  por USD $500/600) irá ter uma grande importância pois é muito diferente para o turista trocar dólares Australianos por dólares Americanos ou trocar dólares  Australianos por rupias Indonésias (AU $1.000 por RP. 10 MILHÕES).
 Se a moeda Timorense fosse uma moeda mais fraca, Timor com a sua beleza natural, poderia desviar uma boa parte do turismo Australiano.  Sendo a moeda Timorense o dólar Americano,   Bali terá sempre vantagem pois que  um turista que use o dólar Americano ou Australiano, ao trocar o dinheiro em Bali por rupia Indonésia tem um grande aumento do poder de compra, o que não acontece em Timor.
 Será (por todo este meu raciocínio) o dólar Americano no presente e no futuro é um bem para TIMOR?