domingo, 3 de janeiro de 2016


A VIDA PASSA PARA TODOS, MAS, NÃO DE IGUAL MODO.


 

Em 18 de Dezembro do ano anterior, voltei ao passado. A um passado  há muito ido, o qual, só por um motivo muito forte, voltaria a estar presente.

Esta viagem no tempo foi um ápice. Num segundo, revi uma panóplia de momentos, que tem o nome de recordações, as quais tem a força de reunir aqueles que ficam, em volta daqueles que partem.

Refiro-me ao enterro de um amigo de longa data. Ele, terminou o seu presente nesta dimensão, projectando toda a sua história futura, somente para o passado.

Conheci-o muitos anos atrás, quando ele era um garoto espigadote e bem malandro e eu, apesar de ser um pouco mais jovem do que sou hoje, seria, no entanto, mais velho que ele, uns bons treze anos.

A sua morte, foi inesperada, mesmo para um jovem de sessenta anos.

 

Mas ele, não morreu assim simplesmente, foi morto, foi assassinado pelas "malhas que a vida tece”, não estaremos todos, enfiados dentro dessas mesmas malhas?

 

O nome herdou-o de seu pai, ilustre enfermeiro, dos poucos que na antiga Provincia de Timor, ia colmatando a falta de médicos,  com vantagem em muitos casos.

 

FERNANDO DE CARVALHO GONÇALVES.

 

Ele era mais conhecido por Fernandinho Gonçalves, muito conhecido em Díli pelo seus colegas e amigos com a carinhosa alcunha de "puto malandro", pelo seu fraco físico, que era compensado pela vivacidade e por uma alegria de viver que  estampava um constante e radioso sorriso, na sua face.

 

Já partiste meu irmão. A tua energia e desassossego fez com que atravessasses o mundo várias vezes, qual andarilho, na procura do sentido perdido, da tua existência.

A vida que foi madrasta para contigo, libertou-te por fim, e estarás por ventura descansando, na Paz que te faltou aqui, neste mundo.

O teu espírito irrequieto tem agora vastos espaços onde espraiar a sua liberdade. Não mais as dores tomarão conta do teu corpo e da tua alma, pois ela agora é livre e não cabe dentro da benquerença ou da malquerença de ninguém.

 

DESCANÇA EM PAZ.
mco

A ÁRVORE NATAL DE TIMOR

A árvore de Natal de Timor é polémica na boca dos Timorenses, que mercê da época Natalícia que se atravessa, apenas falam devagar e baixinho em forma de oração ou ladainha.

 



 

A árvore de Natal de Timor não tem luzes, dizem uns.

Não há eletricidade, dizem outros.

Não há dinheiro, dizem todos.

Há dinheiro, mas não chega para todos.

A árvore está inclinada, dizem alguns.

Para a esquerda, ouve-se sussurrar.

Qual que?  inclinada está! mas NÃO p’rá esquerda.

Para aonde? Alguns perguntam.

Para os “Kóes” dos tubarões.

E para a boca dos avós “Lafaek”.

Tudo, a costumada má língua de Díli, e,

tudo por causa da Árvore de Natal.

A árvore de Natal de Timor,

Que nem sequer é um pinheiro,

Pois em Timor não há pinheiros, só ai-kakeus,

E, a má língua continua como música de fundo,

Tapando o choro das crianças,

sem leite e

sem pão.

Sem brinquedos para brincar.

Sem doces para comer,

sem roupa nova para estrear, quando vão com os pais à missa do galo.

Sem Perú para a consoada, consoada? Que é isso?

Bom, seriam uns rebuçados e um pouco de pão,

E um copo de leite,

E um pudim de ovos,

bem, se não houvesse ovos, talvez uma “hudi-sona”,

com um café, ou um chá para enganar.

São isto os sonhos do Natal, do menino Jesus, - e do menino de Timor- deitado numas palhinhas, naquele presépio pequenino feito em casa com muito amor, e com luz de uma vela. O presépio tem luz…

Mas deixemo-nos de sonhos e poesia barata, pois temos que ir ver o Mau Buti que está a chorar, ele ficou coberto de pó quando um Jeep Hummer de vidros escuros passou mesmo junto da palapa e a nuvem de pó, encheu todos os buracos da casa.

mco