A estrada de terra-batida passava mesmo em frente da casa, e por detrás desta, passava um cano de água para as várzeas. Eu encontrava-me olhando para os campos de arroz que verdejavam do outro lado da estrada. Vindo dessa mesma direcção e atravessando a estrada, um animal com quase um metro e meio de comprimento cuja cabeça era o de uma cobra, com a língua bifurcada fora da boca e o resto do corpo de lagarto, avançava indiferente à presença de mais de uma dezena de homens que se sentavam encostados à mangueira, fumando os seus cigarros e desfrutados de uns momentos de descanso. Calmamente, desinteressado do que o rodeava, com uma sobranceria de quem não teme, passou entre a casa e a mangueira agora deserta, em direcção ao cano de água.
O choque provocado em mim por essa aparição e a actuação do grupo de agricultores que mesmo armados de catanas tinham fugido em todas as direcções puseram-me de sobreaviso sobre o possível perigo que poderia advir de tão estranho animal.
Neste cantinho, todos podem escrever ou ensaiar escritos, desde as lendas de Timor, narrativas ou crónicas da nossa terra. Aqui podes saciar o teu grande desejo de escrever. Nós seremos os teus críticos literários. Envia as tuas obras para Mau Lear "bei_luruk@blogspot.com"
terça-feira, 30 de março de 2010
DRAGÕES PEQUENOS OU LAGARTOS GIGANTES
Dragão-Comodo
Ao fim de largos anos em Timor, não sendo esses anos totalmente passados em cidades mas, pelo contrário no terreno, em matas e ribeiras e muitas vezes no meio de capim de hortas e várzeas julgava já ter visto todas as espécies animais desta terra.
Estávamos no ano de 1972 em plena época de várzeas, e eu encontrava-me em casa de um agricultor amigo, onde normalmente residia quando me deslocava para as planícies de Godole ou Saré. O calor era abrasador, o sol estava a pino e alguns agricultores que tinham começado a trabalhar nas suas várzeas quase de madrugada, tiravam um descanso protegendo-se da soalheira sentando-se à sombra de uma frondosa mangueira que se encontrava a uns vinte metros da casa onde eu estava.
lafaik-rai-maran
O meu amigo já munido de um comprido varapau disse-me: - Foi este bandido que matou o meu búfalo, e as vacas do Páscoa.
Segundo me disseram depois, muitas vezes Búfalos bem grandes e vacas apareciam mortos com sinal de dois buracos feitos pela dentada deste animal, cujo veneno é muito potente.
Peguei na minha espingarda ponto vinte e dois, calibre que dava para caçar pombos, e saí para fora da casa. Os agricultores munidos de varas e catanas passados os primeiros momentos de estupefacção estavam preparados para atacar o animal.
Sitiado de homens armados, o animal não tentou fugir, antes ainda fez um arremedo de ataque, mas foi rapidamente anulado pelo número de pauladas que o atingiram.
O formato do corpo do animal era como uma ampliação dos pequenos lagartos que tem o nome de Lafaik-rai-maran e que habitam árvores existentes em Timor, a que se dá o nome de “Hali”, gondoeiros ou “ficus benjamina”. Este era no entanto quinze a vinte vezes maior.
Lembrei-me do que tinha lido sobre os dragões de Comodo e mesmo sem grande conhecimento nesse campo, conclui que apesar de eles serem maiores do animal que eu tinha visto, seriam forçosamente muito próximos, até no nome porque são conhecidos nas suas regiões, onde o dragão de Comodo é chamado de “Buaya darat” que é o mesmo que Lafaik-rai-maran ou seja crocodilo da terra.
mco
"in retalhos de uma vida em Timor"
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