A
VIDA PASSA PARA TODOS, MAS, NÃO DE IGUAL MODO.
Em 18 de Dezembro do ano
anterior, voltei ao passado. A um passado
há muito ido, o qual, só por um motivo muito forte, voltaria a estar
presente.
Esta viagem no tempo foi
um ápice. Num segundo, revi uma panóplia de momentos, que tem o nome de recordações,
as quais tem a força de reunir aqueles que ficam, em volta daqueles que partem.
Refiro-me ao enterro de
um amigo de longa data. Ele, terminou o seu presente nesta dimensão,
projectando toda a sua história futura, somente para o passado.
Conheci-o muitos anos
atrás, quando ele era um garoto espigadote e bem malandro e eu, apesar de ser
um pouco mais jovem do que sou hoje, seria, no entanto, mais velho que ele, uns
bons treze anos.
A sua morte, foi
inesperada, mesmo para um jovem de sessenta anos.
Mas ele, não morreu
assim simplesmente, foi morto, foi assassinado pelas "malhas que a vida
tece”, não estaremos todos, enfiados dentro dessas mesmas malhas?
O nome herdou-o de seu
pai, ilustre enfermeiro, dos poucos que na antiga Provincia de Timor, ia
colmatando a falta de médicos, com
vantagem em muitos casos.
FERNANDO DE CARVALHO
GONÇALVES.
Ele era mais conhecido
por Fernandinho Gonçalves, muito conhecido em Díli pelo seus colegas e amigos
com a carinhosa alcunha de "puto malandro", pelo seu fraco físico, que
era compensado pela vivacidade e por uma alegria de viver que estampava um constante e radioso sorriso, na
sua face.
Já partiste meu irmão. A
tua energia e desassossego fez com que atravessasses o mundo várias vezes, qual
andarilho, na procura do sentido perdido, da tua existência.
A vida que foi madrasta
para contigo, libertou-te por fim, e estarás por ventura descansando, na Paz
que te faltou aqui, neste mundo.
O teu espírito irrequieto
tem agora vastos espaços onde espraiar a sua liberdade. Não mais as dores
tomarão conta do teu corpo e da tua alma, pois ela agora é livre e não cabe
dentro da benquerença ou da malquerença de ninguém.
DESCANÇA
EM PAZ.
mco