Por meados do ano de l970, alguém me disse um pouco a medo: - Na planície mora um velho caçador de crocodilos que o pode ajudar a resolver o problema. Com ele o bicho mais bravo nem se mexe. O senhor possivelmente não acredita, mas mande-o chamar!
O velho veio. Era muito baixo e bastante velho com as pernas arqueadas todas marcadas de profundas cicatrizes de dentes de crocodilo, notava-se que tinha sido abocanhado pelo menos umas quatro vezes, e os dentes marcados na sua carne eram muito maiores que os dentes do pequeno Lafaek-assu. Era natural de Viqueque, mas morava havia muito tempo na planície de Fatu Berliu. Chamava-se Bei Kassa e depois de ver o animal, sorriu e pediu uma corda.
O animal estava deitado fora da água perto de uma pequena árvore, parecia dormir. Bei Kassa segurou na corda de prender cavalos e entrou na cerca. Eu queria acreditar de que, o lógico iria acontecer, ou seja o ataque do réptil, mas ele continuava dormindo de olhos fechados ignorando pura e simplesmente a entrada na sua área de um intruso. Bei Kassa pôs-se de cócoras mesmo ao lado do feroz crocodilo, e este nem os olhos abriu. Então o velho fez o impensável, fez cócegas debaixo do braço do animal e este esticou-o deixando um espaço entre o corpo e o chão. Nesse espaço o velho caçador enfiou uma ponta da corda que levava consigo, e deixou que o corpo baixasse de novo com a corda colocada por de baixo dele. Seguidamente repetiu o feito do outro lado. De novo as cócegas fizeram o braço se esticar, funcionando como um macaco mecânico, e levantando o corpo do outro lado. Depois foi fácil, ele meteu a mão por debaixo do corpo do animal e puxou a ponta da corda que já lá se encontrava e atou-a por cima da cabeça do animal, da mesma maneira como se prende um cão, e a outra ponta atou-a solidamente à arvore e depois saiu do recinto sem que o animal desse mostras de ter acordado.
O animal estava deitado fora da água perto de uma pequena árvore, parecia dormir. Bei Kassa segurou na corda de prender cavalos e entrou na cerca. Eu queria acreditar de que, o lógico iria acontecer, ou seja o ataque do réptil, mas ele continuava dormindo de olhos fechados ignorando pura e simplesmente a entrada na sua área de um intruso. Bei Kassa pôs-se de cócoras mesmo ao lado do feroz crocodilo, e este nem os olhos abriu. Então o velho fez o impensável, fez cócegas debaixo do braço do animal e este esticou-o deixando um espaço entre o corpo e o chão. Nesse espaço o velho caçador enfiou uma ponta da corda que levava consigo, e deixou que o corpo baixasse de novo com a corda colocada por de baixo dele. Seguidamente repetiu o feito do outro lado. De novo as cócegas fizeram o braço se esticar, funcionando como um macaco mecânico, e levantando o corpo do outro lado. Depois foi fácil, ele meteu a mão por debaixo do corpo do animal e puxou a ponta da corda que já lá se encontrava e atou-a por cima da cabeça do animal, da mesma maneira como se prende um cão, e a outra ponta atou-a solidamente à arvore e depois saiu do recinto sem que o animal desse mostras de ter acordado.
Eu estava incrédulo! Tinha visto durante uma série de vezes ele atacar com raiva quem se atrevia tentar entrar naquele espaço, como se percebesse que era um campo só dele e desta vez nem acordara. O velho disse que o pessoal que ia limpar o tanque já podia entrar, e os dois homens que esperavam para fazerem a limpeza entraram. Foi a corda que prendia o animal que evitou o ataque furioso do bicho. Bei Kassa entrou de novo e o crocodilo ficou de novo calmo e deitado como se dormisse. Depois de tudo limpo e de ter sido posto um tampão que podia ser aberto por meio de uma corda os homens saíram e Bei Kassa tirou a corda que segurava o animal saindo do local. Quando o velho caçador já estava longe o crocodilo deu um salto e desapareceu dentro de água, de onde não saiu durante dois dias.
Em conversa como velho caçador tentei perceber o que se passara e ele disse-me que possuía um segredo que vinha do seu avô e que quando ficava perto desses animais eles ficavam com medo dele.
Todas as vezes que tinha sido atacado, isso acontecera porque os crocodilos que o tinham atacado eram crocodilos que tinham vindo do mar, de fora de Timor e que mesmo assim o morderam e depois fugiram sem o matar. Em primeiro lugar não podemos ter medo pois os animais detectar logo isso, depois existem folhas e frutos com poderes mágicos que os fazem recuar. Dissera-lhe seu avô que quando os povos de Timor tinham feito o acordo de respeito mútuo e de não agressão entre eles e os crocodilos, a quem o povo trata por Bei, avô, tinham comido juntos, certos frutos e folhas para selarem esse acordo. E continuou: - Se nós usarmos esses frutos e folhas, eles lembram-se do acordo e não nos atacam.
Todas as vezes que tinha sido atacado, isso acontecera porque os crocodilos que o tinham atacado eram crocodilos que tinham vindo do mar, de fora de Timor e que mesmo assim o morderam e depois fugiram sem o matar. Em primeiro lugar não podemos ter medo pois os animais detectar logo isso, depois existem folhas e frutos com poderes mágicos que os fazem recuar. Dissera-lhe seu avô que quando os povos de Timor tinham feito o acordo de respeito mútuo e de não agressão entre eles e os crocodilos, a quem o povo trata por Bei, avô, tinham comido juntos, certos frutos e folhas para selarem esse acordo. E continuou: - Se nós usarmos esses frutos e folhas, eles lembram-se do acordo e não nos atacam.
Não podia acreditar na última parte da lenda dos crocodilos e do povo de Timor, mas aquilo que eu tinha visto teria de ter uma explicação. Disse-lhe então que todas as vezes que fosse preciso limpar o tanque eu teria de o chamar. Ficou calado, talvez pensando na chatice que isso era e depois de algum tempo disse-me: - Eu volto cá no próximo bazar, (ou seja no Domingo seguinte) e depois resolvemos o problema.
Ele cumpriu o prometido, encontrei-o do mercado e ele trouxe um embrulho feito de folhas de bananeira. Mais tarde perto do local do tanque onde o crocodilo apanhava sol ele disse-me que me trouxera um fruto e algumas folhas que fariam o Lafaek ficar sossegado. Como viu a descrença na minha cara, ele entregou-me o embrulho e aproximou-se do local onde o crocodilo se encontrava, e quando este o ia atacar ele saiu de novo. Disse-me então para eu lhe entregar o embrulho. Com ele na mão entrou de novo dentro da cerca e o animal nem se mexeu. Depois disse-me para eu entrar com o embrulho e também desta vez o crocodilo fechou os olhos e fingiu dormir. Bei Kassa disse então: - Sem medo faça cócegas debaixo do braço. – Era para ele era fácil dizer. Dominando-me fiz o que ele disse e de novo o animal levantou o corpo por ter estendido o braço. Convencido saí e guardei o que ele me tinha trazido, ouvindo a última recomendação dele: - Não dê, nem mostre isso a ninguém!
Depois disto nunca mais o vi.
"in Retalhos de uma vida em Timor"
mco
1 comentário:
Boa tarde amigo Mau Lear
Sou o Arq. João Filipe Tolentino, tenho em conjunto com o meu irmão um Centro de Documentação de Timor.
O Centro possui uma biblioteca com cerca de um milhar de livros e documentos sobre Timor.
Gostaria muito de entrar em contacto consigo para falarmos das suas publicações relativas a Timor.
O meu email é : j.f.tolentino@hotmail.com
Enviar um comentário