O local foi limpo e foram feitas pequenas barracas de bambu, cobertas de folhas de coqueiro, que fechavam também as paredes. Dentro desses pequenos quartos fizeram um lantém, cama, em bambu aberto e espalmado, onde se podia descansar e dormir à noite. Foram feitos dez quartos desses dentro da mata e mesmo na beira da lagoa e esse local escondido, só encontrava quem entrasse dentro do arvoredo. João limpou a sua barraca da lua-de-mel, a uns cem metros do local e onde ele tencionava ficar com Catarina. Depois de tudo estar pronto, na noite anterior João e mais alguns homens foram caçar veados e porcos-bravos, mas a carne teve que ser seca ao sol da praia, pois que o peixe encontrado, não deixava lugar a que a carne fosse consumida. Depois da chegada dos convidados que foram divididos pelas casinhas, começou a abertura da água do coilão. Os homens cavaram um cano perto do lago e quando a água começou a abrir sozinha, caminho em direcção do mar, todos se afastaram para longe, deixando que a força da água que se encontrava aprisionada empurrasse para o oceano toda a areia que se opunha à sua libertação. A enxurrada do líquido represado tornou num canal de quase cinco metros de largura, o que fora um pequeno cano da largura de uma enxada.
O estrondo do rebentar da areia, foi semelhante ao tiro de um canhão e a água saltou, levando com ela toneladas de areia, enquanto se misturava em espuma, com areia e lama, deixando um rasto da cor de café com leite, nas límpidas águas do Taci mane. Estava aberta a lagoa, e em seguida seria a pescaria.
O estrondo do rebentar da areia, foi semelhante ao tiro de um canhão e a água saltou, levando com ela toneladas de areia, enquanto se misturava em espuma, com areia e lama, deixando um rasto da cor de café com leite, nas límpidas águas do Taci mane. Estava aberta a lagoa, e em seguida seria a pescaria.
Nos requebros da mítica Timorense nada do que tinha sido feito, ou seja a abertura do coilão e a subsequente apanha de peixe e outros crustáceos, seria possível, se na noite anterior, o Liurai de Alas, sozinho, na areia, entre as águas do mar e as do lago, não tivesse evocado os antepassados e os ancestrais avós representados no presente pelo crocodilo, pedindo-lhes que eles não tapassem a passagem e deixasse que a água do lago escoasse para o mar. Nessa noite afirmavam, os crocodilos grandes tinham saído a coberto do negrume e tinham desaparecido nas águas do oceano. Os poucos que tinham ficado eram ainda ineptos para afrontarem, as profundas e traiçoeiras águas do mar, mas ainda capazes de serem os guardiões das águas daquele coilão. De manhã, depois de a água ter saído para a imensidão do oceano, o Liurai com pecíolos da folha da palapeira em forma de pulseira, nos pés e nas mãos e também a fazer de cinto, entra na água da lagoa e vai Hamulak, rezando e explicando ao avô Lafaek que segundo o tratado entre os seus maiores, o povo não o atacará, como ele não poderá atacar o povo e o Liurai vai andando sempre, muito devagar, até chegar ao meio do coilão com água pelo peito. Aí pára e depois de breves instantes, sempre rezando, segue até ao outro lado da lagoa, de onde volta sempre a rezar para o sítio de onde partiu. Chegar ao fim são e salvo, quer dizer que as suas rezas foram aceites pelos “Avós” e então todo o povo especialmente as mulheres entram nas águas com os tais presos na cintura com um cinto de folha de palapeira, e os seios desnudos e nas mãos o dahir, rede de apanhar camarão, que é uma rede cónica fechada na base, colocada numa armação de madeira ou cana dobrada em forma de círculo. As mulheres agarram a rede com as duas mãos e usam-no, fazendo o suru boek, que quer dizer tirar o camarão da água, enquanto os homens usam o dai, tarrafa, que é uma rede maior e com chumbos nas pontas e de forma circular, que é lançada, aprisionando os peixes.
Catarina ficou estupefacta, quando viu o Liurai de Alas dentro de água e se lembrou dos crocodilos que vira em Ira Bere. Ainda que tivesse visto que nada acontecia, quando as outras mulheres a chamaram para ir com elas, Catarina preferiu ficar com o marido. De vez em quando alguma mulher dava um grito, notando-se de seguida uma turbulência nas águas. João explicou-lhe que aquele agitar das águas tinha sido feita pela passagem de um crocodilo que se encontrava escondido na lama e que fora pisado pela mulher. Mesmo assim Catarina abanava a cabeça, não acreditando no tal acordo entre o Povo de Timor e os crocodilos, nem que o lafaek fosse o avô ancestral do Timorense. Dois dias foram aproveitados pelo povo para secar no sol escaldante da praia o peixe pescado, que durante bastante tempo seria mais uma fonte de proteínas para todos. A pescaria fora um sucesso e mais uma vez se confirmava que o avô lafaek respeitava o antigo acordo feito entre os seus ancestrais e os antepassados dos habitantes de Timor.
mco
in "Timor na senda do mítico"
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