domingo, 13 de julho de 2014

Mau Kuro de Kukara e o “patrão Álvaro”


Morreu hoje mais um Homem que pela sua magnitude e carisma era daqueles de devia ser eterno. Álvaro de Sampaio de Mascarenhas Inglês de seu nome viveu neste mundo em que o negativismo impera, como uma candeia acesa indicando o caminho da paciência e da alegria a todos os que o conheciam, ou que de perto privavam com ele. Conheci-o na povoação da Hatolia, Timor, onde por imposição do meu trabalho o fui encontrar. Nascido em Díli e criado na sua terra natal, era fazendeiro, pois possuía uma pequena propriedade de café, que sua esposa D.Lusitana herdara de seu pai. Depois da invasão da Indonésia, refugiou-se em Atambua, uma pequena povoação no território Indonésio, para onde se tinha retirado com a sua numerosa família. Aí permaneceu fugindo da guerra que grassava por todo o território de Timor, até conseguir ser repatriado para Portugal e daí para Darwin onde viria a falecer.
O seu nome ficará como uma lenda entre o povo da Hatolia e apesar dos anos os velhos ainda falam no “patrão Álvaro” e decerto relatam para os mais novos as histórias que ele semeou naquela terra. Eu lembro-me bem do Mau Kuro da povoação de Cucara, o mais velho trabalhador da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, nome da sua propriedade. Tão velho que só o cajado o fazia descer da montanha onde vivia, uma vez por ano, em 13 de Maio, dia de Festa na Fazenda, quando todos os trabalhadores e mesmo não trabalhadores comiam e bebiam o que o “patrão Álvaro” preparava para eles, depois da missa campal, em frente do nicho da Senhora de Fátima.
O Mau Kuro comia e bebia animado e todos os anos se repetia a mesma cena. Ele antes de voltar para sua casa pedia ao “patrão Álvaro” que lhe desse o remédio que lhe daria forças para voltar no ano seguinte. E isto passava-se todos os anos e durante muitos anos. Então o “patrão Álvaro” ia buscar um comprimido de Aspirina que o velho bebia, com contentamento, pois ele tinha a certeza que voltaria no ano seguinte. E a realidade era que no ano seguinte, agarrado ao cajado com o corpo mais dobrado ainda, ele lá estava, reclamando de novo pelo remédio que lhe daria mais um ano de vida.

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