sábado, 11 de julho de 2009

MORREU O IMPERADOR DO MUNDO


Noutros tempos e sítios, que nunca mais estarão para ele e para mim, disponíveis para os podermos saborear, dizia ele em ar de bazófia “ Hei-de ser o Imperador do Mundo”. Era só prosápia pois que ele nunca foi Imperador do Mundo, mas foi aquilo que é muito difícil de ser em situações como as que ele enfrentou, um HOMEM.

Com ele terminaram os Manueis Carrascalões, pois que o era seu pai, já falecido, o foi seu filho, assassinado ainda menino-HOMEM, tirando-lhe o lugar na vingança sanhuda das drogadas milícias Indonésias.

Por ironia do destino, ele que sempre viveu no limite do perigo, morreu na cama de um hospital por motivos de saúde e idade.

Não era meu irmão, mas meu irmão foi. Aliás ele era irmão de todos os que dele necessitavam. Político clarividente e astuto, movia-se nos meandros da política com o saber que lhe vinha da experiência e do ADN da sua existência de mistura de activista anti-Salazar, de seu pai, e do instinto político-nato que todo o Timorense tem, de sua mãe.

Que mais posso escrever?
Se escrever a verdade serei severamente criticado por todos aqueles que o não conheciam. O nome Carrascalão sempre teve um estigma. Antes de conhecer a pessoa, Manuel Carrascalão, pai, já tinha ouvido a história de ele ser um “bombista”. A má fama tinha sido criada por invejas de adversários políticos, e não só, desde que o velho Manuel, pai, fora nomeado presidente da Câmara Municipal de Dili e enveredara no caminho da política local. Na realidade o Manuel Viegas Carrascalão, pai, foi em Portugal secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho, fundador da maioria dos sindicatos existentes em Portugal e deportado para Timor por Salazar, por ser anarco-sindicalista.
Em Timor fundou a Associação Comercial e Industrial de Timor, o que lhe trouxe mais inimizades. Mais tarde, quando depois do 25 de Abril, os filhos enveredaram também pela política formando a União Democrática Timorense, os inimigos políticos que agora já eram Timorenses, aproveitam a nódoa que tinha sido derramada por invejas sobre o seu nome, para criarem slogans como “latifundiários” “colonialistas”etc. etc.

Manuel Carrascalão, filho foi a cima de tudo um HOMEM valente. Sempre disse na cara dos Indonésios, especialmente dos tubarões, aquilo que pensava e dizia-o alto e em bom som, em frente de todos. As vezes que afrontou os altos poderes militares Indonésios, valeu-lhe a morte de seu filho, e de dezenas de refugiados que tinha no seu quintal em Dili.

Entre outros casos em que afrontou o poder militar do opressor, sem armas, foi quando três generais se deslocaram de Jakarta a Dili, para o acalmar por causa da morte de alguns Timorenses que eram seus trabalhadores, ele respondeu-lhes:

- “Vocês tratam-nos por “Saudara” irmão, mas é tudo mentira. Vocês são Islames e rezam antes de matarem um animal para comerem, mas para matarem um Saudara Timorense, nem depois de ele morto, vocês rezam”.

Ele já foi. Boa Viagem irmão, dá por mim, um abraço ao Manelito.

mco

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada pelas suas palavras e os meus sentimentos pela sua perda.

Anna Landim disse...

Escrito por um amigo de longa data que o conhece muito bem. Um grande abraço.

Nela

Anna Landim disse...

Escrito por um amigo de longa data que o conhece muito bem. Pois poucos conhecem dessa opinião dele sobre "saudara" usada pelos indonesios. Um grande abraço.

Nela